(Shiro & Kuro)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

# 6

Shiro acordou suavemente, tranquila. Regressara de um mundo maravilhoso repleto de doces e magia. Saltou do conforto dos seus trapos espreguiçando-se. Parou por uns segundos a sentir aquele lar vazio e silencioso mas não o suficiente para a deixar em nostalgia. «É dia de enviar a carta!». Rapidamente se pôs a andar. Caminhava por entre ruas e pessoas. Ela gostava de se embrenhar no meio da multidão que começava o seu dia comprando o almoço nas pequenas bancas. Sentia-se invisível (e sempre conseguia ganhar alguma comida, como um pãozinho quentinho e uma peça de fruta). Havia já quem a conhecesse e lhe sorrisse e também quem desviava o olhar em sinal de reprovação. Mas ela continuava a saltitar e a cantarolar pelas ruas, a cumprimentar os animais no seu caminho para a torre. Subiu. O sol estava forte a estas horas. Sorriu, era agora altura de enviar as suas folhas mágicas. Dobrou-as cuidadosamente, carinhosamente. Escreveu o nome "Kuro", soprou e os bocadinhos de papel voaram do cimo daquela torre. Ela ficou a vê-los desaparecer. Suspirou de alívio, sabia que aqueles doces pedacinhos iriam chegar ao seu destino.

Não uma vez, mas duas vezes, aquela menina de cores roxas agarradas aos fios de cabelo e calções de ganga veio falar comigo debaixo daquele candeeiro de ferro retorcido. Forças maiores não me deixavam soltar uma palavra. Medo? Ela podia não ser real e se eu falasse ela desapareceria. Mas não me impedi de me deixar levar pelos seus olhos extremamente escuros. Mostrou-me lugares esquecidos e secretos. Deu-me argolas de prata. E quando vi que ela nunca me iria fugir nem que eu nunca lhe iria fugir, dei-lhe chocolates. Falei-lhe. Dei-lhe a mão. E ficámos extensão de pele uma da outra para sempre.

Kuro. É a Kuro.

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