(Shiro & Kuro)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

# 7


Casa, incerta, muito temporária e cheia de correntes de ar, mas casa. Por ora, chegava.
De paredes de tinta estalada e coberta nalguns recantos com uma camada de humidade, vidros dispersos pelo chão, as folhas de livros de capas vazias e rasgadas abandonados pelos cantos, alguns cotos de velas e carecendo de mobília, mas inabitada já há suficiente tempo. E Kuro gostava do cogumelo desenhado a cores vivas numa das paredes, de autor anónimo.
Foi para aí que se dirigiu. A parede ficava perto de uma janela, por onde o sol e a lua espreitavam quando lhes apetecia.
Em cima de uma caixa de papelão tombada (artefacto precioso que encontrara intacto nem há uma semana atrás), a jovem colocou o que contivera nos seus impacientes bolsos durante todo o caminho de regresso. A seguir, sentou-se, com a caixa no meio das pernas cheias de arranhões e abriu uma lata de sumo que adquirira quando um merceeiro se encontrava distraído com algum cliente. Deu um trago na bebida, doce, e só depois concentrou a sua atenção na caixa.
Kuro avaliou a “colheita” desse dia com um olhar crítico e apreciador. «Nada mau…»
No meio das coisas, um objecto despertou-lhe a atenção. Era um anel de prata, simples mas bonito. Servia-lhe no dedo indicador e Kuro pensou em Shiro e em como gostaria de, um dia, lhe poder oferecer algo tão belo, para além das pequeninas flores que, de vez em quando, ao passar por um certo tipo de planta, espalhara nos cabelos compridos e eternamente indomesticáveis de Shiro.
Examinava um dado translúcido de oito lados quando os bocadinhos de papel entraram pela janela sem vidros, enviados pelo já frio vento de Outono.
Com paciência, juntou-os e começou a ler…

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