(Shiro & Kuro)

domingo, 12 de dezembro de 2010

# 11

Folhas secas restolhavam debaixo dos pés de Kuro enquanto o sol se espreguiçava para o interior da terra.
Em breve, cairia um crepúsculo rápido, que cobriria e acordaria as luzes nocturnas da cidade, uma por uma, como num feitiço.
Instintivamente, Kuro olhou de soslaio para o relógio que trazia no pulso direito.
«Tenho de voltar.»
As teias de aranha começariam a ganhar um brilho prateado e líquido, cristalino, de orvalho, nos seus cantos escuros, e as pessoas recolher-se-iam por completo para descansar. Depois, o vento frio seria o senhor das ruas.

Kuro ainda se encontraria na rua quando este senhor chegasse, algumas horas depois, e veria este mesmo vento atirar os bocadinhos que restariam das folhas secas pisadas para cima de tudo. «Como se atirando pequenos segredos no seu sopro.»

Enquanto pisava aquelas folhas e ouvia o som estaladiço que faziam, calcando-as propositadamente, adorando cada ínfimo tom, Kuro ainda não sabia que, esta noite, não chegaria a casa.

Sem comentários:

Enviar um comentário

sonhos atirados